Carta ao Amor
Querido Amor,
Escrevo-te do mais íntimo do meu ser, da profundeza ambígua do meu coração, escrevo-te para te dizer "Adeus".
Por anos, enquanto me davas a conhecer o teu rosto vil, não abdiquei da minha fé em ti, mesmo que fé não fosse o meu forte, não olhei a meios para te albergar em mim. E por entre ti e teus quereres, apaguei-me e esqueci-me de mim.
De cada vez que me fizeste cair e jurar abandonar-te à tua sorte, encontraste maneira de te chegar ao meu peito e cantar-me ao ouvido. E depois de me enredares novamente em ti, falhaste-me, uma e outra vez. Por ti caí e em dor me levantei. Por ti vivi, por ti chorei, por ti o meu olhar brilhou, por ti e por teus modos me afoguei. Afoguei-me na ilusão idealista de ti, essa imagem branca e plena de ti, sem as sombras que tens, sem teus ares de crueldade infantil, pretenciosa.
Amei-te com tudo o que tinha, mais o que não tinha, com esperança e violência, amei-te plenamente, sem saber do que eras feito.
Agora, que te deixo para trás dos sonhos e das lágrimas, que te aceno e te entrego ao meu passado tenebroso, um peso se eleva dos meus ombros, se espalha pelo ar.
Foste o dom mais precioso e a minha maior desilusão.
Adeus.