Uma Janela é mais do que uma Janela
Pela janela mal aberta e pelas frestas de um estore corrido, chegou um cheiro de mar através do som de uma gaivota, asas que batem e cantam as odes das águas de um Tejo que nasce e morre nos fados queimados dos corações das gentes.
Magia e saudade, misto de emoções que brotam e desaguam noites e dias afora.
Feridas as noites, roucos os dias.
A janela caiu de frente para as margens desse eterno amante de Lisboa, cacos do meu fado taciturno. Mistérios contados e recontados, desmistificados, eu exposta em rimas e traquejos de uma voz que dita o que sou e não sou eu que a tenho.
O rio galgou o passeio, veio buscar os cacos que eram dele também, foi-se a janela de vez, calou-se o fado.
Sem fado, sem a lembrança dos meus desamores, dos infundados medos e das notas graves, fico eu, sozinha em mim e no futuro de mim. Sem janela para me resguardar do mundo grande, feio e mau, sem protecção.
Sou tudo o que tenho para dar, chegando ou não, sou mais do que seria se não tivesse um Fado em qualquer altura da minha vida.