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L.C. Ferreira Word

Porque tudo o que conheço não chega, porque nunca direi vezes suficientes e porque sim...

L.C. Ferreira Word

Porque tudo o que conheço não chega, porque nunca direi vezes suficientes e porque sim...

Um Adeus é Sempre uma Perda

por lcferreira, em 20.03.11

 Ela partiu.

 Levantou-se por entre o bafio e o cheiro a tinta seca e saiu corredor fora, levando tudo com ela.

 Levou os livros, os das receitas que aprendeu para o agraciar e os das estórias que lhe deram alento quando ele lhe faltou em companhia.

 

 Levou os anos, guardou-os na alma, o que deles restava depois dele os gastar.

 Levou as lágrimas, todas elas, as de ontem e as que insistiam em cair agora que tudo se acabava.

 

 Levou o amor, trapo rasgado e queimado, outrora sadio e vivo, parecia ter sido noutra vida.

 

 Levou-se a si mesma por aquele corredor, o pouco que ainda de si reconhecia, e era pouco, de tão vazia que estava.

 Levou os sonhos, um a um, os dela e os que tinha sonhado para eles, esse eles que se extinguiu pela humidade dos dias.

 Levou os segredos que escondeu dele e os que sendo dele, escondeu de si em negação assumida.

 

 Tudo ela levou e tudo lhe pesou o corpo marcado, todavia, era um peso menor do que o que carregara enquanto fora dele.

 

 Deixou-o em silêncio, ele não fez caso, pensando talvez ser apenas mais uma cena dramática, uma como tantas outras em busca de atenção, da sua atenção. Ele, que tanto mais tinha para fazer ao invés de dar validação à alucinação recorrente dela.

 

 Ela conhecia-o bem, sabia que não a seguiria nem entraria em desespero aflito, sentir-se-ia livre, sem ao menos entender que de entre os dois, era ela a prisioneira. Retida na sombra do Amor e na promessa d'um Amanhã que não chegava, ora porque não era a hora, ora porque ela o pedia em demasia.

 

 Deixou as desculpas vãs, as palavras ocas, deixou-as para o confortarem durante a noite.

 

 Saiu.

 Um rasto de perfume foi tudo o que ficou no corredor lôbrego, por entre o bafio e a tinta seca.

 

 

Pai

por lcferreira, em 19.03.11

 Pai.

 Palavra forte a acompanhar um posto exigente. difícil.

 

 Falhaste-o, falhaste-me. Quando andavas a combater os teus demónios, esses demónios que convidaste a ti, e desintegraste a nossa família, enquanto andavas nas meias laranjas da vida, eu cresci cedo demais a tentar fazer o teu papel, a reparar os teus erros, a odiar-te.

 Enquanto percorrias as ruas escuras e galgavas os prédios rosados em busca da felicidade efémera, eu fui desprovida da inocência, foi-me arrancada da maneira mais vil e cruel que se possa imaginar. E tu não estavas aqui para me proteger, para me amparar, para me vingar. Apenas me fez odiar-te mais.

 

 Estás velho, marcado pelas más escolhas feitas. És um bom avô e o teu neto adora-te. Eu não partilho do mesmo sentir, lembrada dos tempos passados. Sou assim, desculpes ou não. Foste o primeiro homem que me falhou, que não cumpriu com promessas para comigo e não to sei desculpar.

 

 Ainda assim, e porque os meus irmãos perdoaram e porque ser avô é ser pai em dobro e o meu filho ta ama, Feliz Dia do Pai.

Quantas estrelas tem a noite, quantos sonhos tenho eu?

por lcferreira, em 13.03.11

 A noite tem dias de beleza rara, horas de realeza celestial.

 

 Ela tráz consigo um mundo novo, o fim dum ontem que não brilhou. Olhar um céu estrelado, mesmo que da janela suja da máquina de ferro, é abrir as portadas da mente, aos sonhos.

 A esses sonhos feitos de algodão doce e de esperança, esses sonhos de amor e de fé, em si e nos demais.

 Sonhar faz de nós pessoas melhores. Mesmo.

Viver

por lcferreira, em 11.03.11

 

 

 Espuma debaixo dos pés, maresia que se espalha pelo ar, encontramo-nos nas rochas defronte para o ocaso.

 

 Sabes, viver é uma coisa complicada, tem tantas maneiras de ser dificultada, tantos entroncamentos...

 

 Precisamos uns dos outros para facilitá-la, torná-la mais alegre, mais sorridente. Precisamos de amor na nossa vida, para quando ela se findar, sabermos que vivemos, fomos amados, amámos, fomos felizes, vivemos.

 

 Mas somos teimosos, orgulhosos, preferimos gritar que não precisamos de ninguém, que estamos muito bem sozinhos, preferimo-lo a admitir, ainda que em surdina, que sozinhos não somos completos, sozinhos sem quem queira saber de nós, não somos muito. Muitas vezes, sozinhos não somos nada de nada.

 

 Quando é que a inesistência de afectos em público se tornou tão banal ou sem sentido, que é necessário escrevê-los para que sejam valorizados?

 

 Somos seres complicados a complicar demais o que é simples, a viver aflitos porque ninguém gosta de nós, quando temos tantos que gostam, sem perceber que o amor tem mil faces.

 

 Chegou a hora, as rochas espreitam os nossos beijos, o barco lá ao fundo desliza veloz. Deixa-me contar-te as minhas aventuras e canta-me as tuas...

Desabafo

por lcferreira, em 11.03.11

  O meu amor chama por ti, pela tua mão fria na minha face febril.

  Tráz de volta a inocência e a descoberta de outros tempos, quando não pensávamos saber tudo um sobre o outro...

 

 

Cuida-o

por lcferreira, em 10.03.11

 O meu coração voou, fugiu-me das mãos. Quedou-se nas tuas portadas fechadas, ficou-se lá pela noite.

 Que venha o dia a nascer de sol raiado e abras as portadas de par em par até que o encontres e guardes. Que o livres da má sorte brindada e o aqueças no teu regaço suave.

 

 Qu'ele é teu.

Deixei o Amor Escrito

por lcferreira, em 10.03.11

 Percorri os cadernos antigos e lembrei-me do amor que lhe tinha. Todas as loucuras em nome desse sentir, todas as meias madrugadas passadas juntos, os olhares trocados em silêncio sepulcral, não fosse alguém reparar.

 

 Olhei para ele, anos que se passaram depois de encher as páginas dos meus cadernos com declarações de amor, com indignações, com revoltas e reviravoltas, com esperança, nele, por ele, por nós, em nós.

 Olhei-o. Tão mais velho do que é, vincou o tempo com força o rosto que os olhos azuis fazem brilhar. Faziam.

 Não brilha como brilhava, na excitação de um acto proibido, altas horas da manhã. Não sorri como sorria, quando o enchia de carinho desprovido de futilidade.

 

 Olho-o nos olhos e recordo-me de o ter amado tão sofregamente que mal respirava quando finalmente o tinha comigo. Recordo-me de um menino com ares de homem, a quem bastava um afago para acalmar o temperamento difícil. Recordo, ao olhá-lo directamente nos olhos, das noites solitárias e das lágrimas que as acompanhavam, quando a resposta não vinha e o tempo passava e se acabava. Lembro-me da irracionalidade com que se afastou, com que me afastou, sem um adeus, sem um porquê. Lembro-me da dor aguda, quando o ar me faltava entre soluços constantes.

 

 Será que ele sabe o tamanho do amor que perdeu, envolto nos seus fantasmas e negativismo? Será que pensa o quão estupidamente tolo foi, a afastar uma mulher que estava disposta a aceitá-lo com todos os seus defeitos e imperfeições? Será que tem noção?...

 

 Não o quero de volta, segui em frente. Deixei-o dentro dos meus cadernos e das minhas recordações de amor de um ontem qualquer. Mas sou assim, tenho pena de todo o amor desperdiçado, este é um.

 

 

 

 Sempre amei com o coração por inteiro, com a alma nua e com o corpo quente. Não sei ser doutra maneira, não quero. Não quero olhos de cinismo puro, a adivinhar desgraças por trás de actos desprovidos de maldade. Não quero ser fria em contacto com as dores ou com as lágrimas, as minhas e as dos demais. Renego ser da fornada dos apaixonados descartáveis, os que usam as cores do amor para seu único proveito, sem fazer prisioneiros, sem olhar a meios.

 

 

 O amor é uma coisa muito séria e bonita para se maltratar e deitar fora quando não mais for útil. O fim deste amor foi assim, um desmérito à sua grandeza.

 

 Ficaram os cadernos carregados de palavras e sentimentos, janelas de outrora.

 

 

Até Casa

por lcferreira, em 09.03.11

 Abro os olhos e vejo.

 Vejo os vultos das árvores a tapar as luzes que a cidade impõe. Os vermelhos que se tornam verdes, as pessoas aflitas na pressa de chegarem a tempo e o fumo de escape que deixam para trás. Vejo o rio vestido de breu, a cintilar nas margens da cidade que deixo e da cidade que me recebe, os barcos que se aventuram por esse rio dentro.

 Vejo as capelas vazias, os castelos abandonados e as hortas adubadas. As estrelas tapadas e a Lua escondida, não vejo mas sei que estão lá, por trás das nuvens carregadas.

 Vejo as fontes de águas paradas e a estagnação dos telhados, os esqueletos das casas caídas, os grafítis por aqui e ali.

 Vejo o ar pesado dos sonhos falidos dos outros, dos meus também. E choro, vendida à realidade dura. Choro e ninguém se apercebe, neste comboio azul e branco, ponte ágil entre margens.

 

 Choro de olhos abertos, a não deixar escapar cada pedaço desta vista esplendorosa, silenciosa. Choro porque estou em casa.

O que vem tarde nem sempre vem tarde demais

por lcferreira, em 08.03.11

 

 Mais um ano que se foi e eu estive aqui, contigo, por ti e por mim, por nós, pela fé em nós.

 Por amor eu estive, estou aqui.

 

 Este amor não é fácil, somos ambos difíceis(oh se somos!), cada um com a sua quota-parte de paciência para o outro.

 Ser ''normal'' não é um objectivo que consigamos alcançar, inventamos a nossa própria normalidade e aproveitamo-la como nos é possível. Muitas vezes em desacordo...

 

 Temos tudo para dar certo, temos tudo para dar errado, tentamos o certo porque sabemos ser capazes do errado. Batemos com a cabeça na parede, gritamos, suamos, choramos(eu choro), damos 8 e 80 de nós. No fim, vemos que mais difícil que sermos nós, é deixarmos de ser nós, e voltarmos a ser eu e tu no singular.

 

 Não vou ficar sem ti. Vou continuar a lutar, a acreditar, a apoiar-me na fé quando o dia não for bom. Vou continuar a errar. E a tentar fazer melhor depois de errar.

 

 By the way...

 

O Amor não traz Mapa

por lcferreira, em 08.03.11

 O amor tem pontes e estradas, entradas escuras, o amor tem caminhos, precipícios e atalhos. Altos e baixos, depressões, bolsas de ar.

 É tudo amor, por amor, em nome do amor, essas voltas e revoltas, essas guerras e essas balas, por amor se dão e se findam.

 

 A ponte alta, do alto de uma arrogância milenar, olha indiferente os pés que se movem por baixo de si. Dirá porventura que são tristes e tolos, a magoar os pés desnudos nas rochas afiadas, somente em nome de um beijo em silêncio, contado ao segundo, escondido dos outros. Não são tolos, não são tristes, são amantes que percorrem os atalhos e as estradas e mesmo as falésias do amor, por um beijo, por um olhar, quase sem olhar o mundo em redor.

 São mandatários do amor em segredo, fervorosos aos seus sentimentos mais loucos, mais primatas, devotos ao amor. Ainda não descobriram que o amor não tem vontade de se esconder, não gosta de se manter calado, quer gritar, cantar e dançar. Basta olhar em redor...

 

 É vê-lo na porta dos colégios, no vão das escadas, nos bancos dos automóveis, nos recantos dos jardins, nas dunas das praias. Amor. Físico, espiritual, inocente, recatado, espalhafatoso, exibicionista. Há-o por toda a parte, grandioso ou subnutrido, não falta amor neste mundo.

 

 Falta quem o reclame seu e o partilhe, debaixo de uma ponte milenar, como se de um segredo precioso se trate. Faltam amantes para a procura que há...

 

 

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