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L.C. Ferreira Word

Porque tudo o que conheço não chega, porque nunca direi vezes suficientes e porque sim...

L.C. Ferreira Word

Porque tudo o que conheço não chega, porque nunca direi vezes suficientes e porque sim...

Utopia

por lcferreira, em 30.05.11

 Nasceu, mais uma das manhãs ensandecidas da Babilónia, mais um remoinho de vida mal composta, suja e imoral. Despontou na ombreira da janela, causta e inquieta, não adivinha de si o que trás. Alvorada rubra e raiosa, louca e perversa.

 

 Na Babilónia dos cheiros partidos, os homens e as mulheres não são uns dos outros, são unos uns com os outros, numa montanha de carne de todas as cores. Lá, o amor tem sabor de uns e outros, tem nome deles todos, uma amálgama de sentires em uníssono. Sem juízos de valor, sem mal dizeres ou rotulações.

 

 Daqui, de fora dos portões dessa Babilónia medieval, o dia amanhece como outro qualquer, puro e impenetrável. Repleto de mesquinhez e maldade gratuita, de extintores arremessados sem porquê. Aqui, onde a guilhotina enferrujou e a lei mudou, os mancebos e párias tomaram o mundo e fazem dele o que lhes convém, perante a conivência dos nossos líderes.

 

 Deixem-me escapar destes vales repletos de sombras e vultos escondidos na mentalidade da alcateia dos covardes. Deixem-me entrar pelos portões dourados da fantasia, essa Babiilónia que não julga, que não impele a força do que quer, que deixa viver, que deixa amar, ou não, sem quaisquer entraves. Deixem-me sentir o gosto da terra e da água, do suor e do sangue. Deixem-me sorrir e chorar, sem parecer tola ou fraca.

 

 Quero evadir-me desta realidade feia e decrépita dos dias.

 

 

Sons de Amor em Mãos de Água

por lcferreira, em 27.05.11

 Palavras, é o que são, meros sons que se soltam da boca e se vão poisar em teus ouvidos. Palavras empinadas umas nas outras, sem saber onde se enfiar, tamanho o tamanho e peso de cada uma. Palavras tiradas à força, sem dó, sem piedade, e que piedade haverá na descrição do volume de um peito aberto em mãos tuas?...

 

 Palavras a rasgar o breu silêncio a que as boas maneiras vetaram a vontade de gritar, essa vontade que ferve e queima e arranca pele, qual é a intensidade do seu sentimento agreste. Palavras caladas, mudas e surdas, fingidas, singelas, palavras de Amor.

 

 Palavras penduradas no ar, promessas de dias de um tempo melhorado, confidências do mais íntimo e intimorato dos sangues. Palavras que dizem tudo, que deixam tudo por dizer, palavras de paz e de guerra, escritas nos olhos de quem as diz e de quem as cala.

 

 Palavras...para quê?...

 

 Para saberes e não te esconderes nessa capa de sol apagado com que miras a vida passar. Para que aprendas que os sentimentos se revoltam mesmo que lhes digas que não podem. Para veres o efeito que têm quando ditas com emoção explícita e desembaraçada.

 

 São apenas palavras. Saíram de mim, foram endereçadas a ti, por entre um chorar sem razão aparente. Ter-se-ão perdido? Diz-me que não.

 

 Com uma mão cheia de palavras.

 

 

O Amor tem Tardes de Sofrimento Profundo

por lcferreira, em 25.05.11

 Esperei por ti toda a vida nesta tarde que se acabou. Esperei e desesperei de cega que estava pelo sol sufocante que não arredava pé.

 

 Esperei, estátua humana do amor que sinto, do amor que tenho para ti. Quando a tarde se findou e a noite deu de si, eu continuei à espera, em lágrimas, esperei. Quando o céu ardeu e a lua se fez rainha, a esperança que detinha no meu peito, foi morrer no sal do meu olhar, a olhar o horizonte da estrada por onde devias chegar.

 

 Não consigo deixar de esperar, ainda agora, que já deixei a varanda de madeira onde calquei os pés desnudos nessa tua espera infrutífera, ainda espero, mesmo descrente, mesmo sem fé, ainda espero, ainda amo. Daria a vida inteira, essa que gastei no soalho gasto, para entender o que te move e o que não. Quem és tu para me fazer esperar, em angustiante sentimento, no fim do mundo dos outros, envolta em tristeza e abandono, a chorar? Quem és, inconsciente amante que não dás sinal de vida, que não mandas mensageiros com novas de ti?

 

 As naus saíram do porto e foram encontrar os rochedos de fel. Estarias numa delas? Serias tão pouco homem que preferiste fugir deste amor que fizemos nas margens do rio? Talvez nem sequer tenhas ido, embriagado da covardia do não entendimento do sentir, embriagado num canto recôndito e obscuro desta metrópole que nos assalta e engole...

 

 Oh!, que eu esperei tanto por ti, por nós. E o sol brilhou e desapareceu e tu não vieste tirar-me do varandim sujo e descolorado. E eu ainda espero, tão longe que fui pousar, ainda espero pelo encontro do teu olhar, a fitar o meu, a dar-me de beber o amor que não aprendeste a controlar. Ainda espero, tola que sou, apaixonada que estou, espero e desespero, calada, numa ânsia surda e fria, espero. Com tudo o que tenho, sem medo de falhar, sem problemas se falhar, a tentar, espero. Quase sem ar, não vá perder a tua chegada por respirar alto demais. Tola, na espera de ti.

 

 

Contigo?...

por lcferreira, em 24.05.11

 Não sou igual sem ti, sem o teu cheiro forte, sem teu passo firme. Não sou. E não gosto.

 

 Peço-te que voltes, que olhes para o que deixaste acontecer e retornes. Eu sei que não partiste. Mas parece. Não estás aqui como suposto, estás e não te sinto, sinto que não te tenho. Sinto um turbilhão no peito, uma tempestade na cabeça, um sem número de coisas más e vis, que não quero, que não gosto, mas que estão cá dentro de mim, a consumir-me, a esgotar o meu amor, a testar a minha saúde. E tento que as entendas mas não consigo e isso só me faz sentir pior, apenas me deixa mais triste e cansada e derrotada. Deixa-me sem conseguir respirar.

 

 Estou cansada de ter esperança, cansada de estar cansada, exausta na espera de um milagre, duma intervenção divina que não chega e não se dá. Sinto-me velha, encarquilhada, fora do meu tempo e do meu jogo, outra de mim que não eu. Esta não sou eu. E tu não entendes, não vês. Não percebes que me perdes por não estares aqui, onde eu estou, a tentar, mesmo com mau ar, mas a tentar, a falar, a querer melhorar, a saber que não falar e dar mais tempo às coisas que mal estão, não vai ajudar, não tem ajudado. Não estás aqui, envolto no enredo da tua vida complicada, sem desejar mais complicações a acrescentar a muitas. Eu também as tenho. Mas estou aqui, não fui a lado nenhum, não finjo que está tudo bem. Talvez fosse mais feliz viver numa ilusão que fabricasse para me amenizar a alma. Mas seria viver em mentira e eu não aprendi a viver a vida assim, recuso-me, não aceito viver assim.

 

 Talvez estivesse enganada quando acreditei que o amor salvava tudo, que bastava amor entre duas pessoas para fazer rodar o mundo da melhor maneira, talvez tenha sido ingénua, inocente, crente numa fábula infantil. Parva. Não contei que amar, não dá vontade às pessoas para fazer melhor, achas que o tempo resolve o que é nosso de resolver, juntos, sem guerras civis, sem feridos, sem sangue derramado. O tempo tem ares de cura mas não aqui, não agora, não nisto. Isto é nosso de ultrapassar e eu não sei se queres.

 

 Precisamos de ajuda, eu preciso de ajuda, encurralada que estou neste remoinho de negatividade e lágrimas em que me encontro. Preciso de ti, presente, com vontade, sem dizer que o tempo a que se arrastam os problemas não é assim tanto como eu faço parecer, nesta ânsia de mudar o rumo que escolheste tomar e nele me arrastar. Todo o tempo que perdemos, não é recuperável. Dizeres que é, não faz de ti ingénuo nem inocente.

 

 Faz de ti mentiroso.

 

 

A Vida tem Mais do que Parece

por lcferreira, em 23.05.11

 A solidão deu o nome aos homens, deu o seu ar aos seus olhos tristes e cansados, invadiu os seus corações e encheu-os de negritude.

 

 Os homens andam sozinhos, enclausurados em si mesmos, nas suas tarefas, nos seus temperamentos. Esquecem-se de formar laços, deixar o seu toque no corações de outrém, uns nunca aprenderam a fazê-lo.

 

 No meio da tristeza de não ter ninguém que os ame, tornam-se cínicos, mesquinhos, crianças abandonadas à sua sorte, sujas e descuidadas. Não entendem que a mudança vem de dentro deles, vem da sua vontade de abrir as portadas do peito e deixar alguém chegar perto.

 

 Os homens de hoje têm lacunas em Humanidade, em dar sem esperar contrapartidas, em ser e deixar ser felizes os demais.

 

 Vejo-os da minha janela, sentados à espera de alguém que não sabe que devia lá estar, a angustiar, a deixar que a solidão e seus mal-dizeres, regule a maneira com que olham o mundo. Não percebem que enquanto esperam, a vida vai e vem, passa e acaba. Enquanto nada fazem, tudo se finda e nada fica, nada deles fica, eremitas citadinos.

 

 A vida é curta demais para gastá-la sentado. Temos de nos levantar e ir ao seu encontro. Por nós.

 

 

A Cegueira do Coração faz Luto

por lcferreira, em 14.05.11

 Não desistas de mim.

 Era tudo o que conseguia dizer, tudo o que conseguia pensar. Não, mentira. Ele tinha passado a parte do simples pensar, tinha passado para a parte do pensamento obsessivo.

 Precisava dela e ela não estava, tinha partido. Tinha partido, assim como o avisara tantas vezes, vezes a que ele não dera importância.

 E agora, agora precisava dela, do seu olhar perscrutador e do som da sua voz. Precisava que o viesse salvar, dele mesmo, do seu jeito monótono de viver, da rotina dos dias e da solidão das noites. E ela não vinha, ela não estava mais ali, do lado dele, a olhar por ele, a dizer-lhe o que fazer, ela tinha partido.

 

 Quando? Quando partira ela, que ele, envolvido em si mesmo, não percebera que era a sério, que não voltaria mais? O que tinha sido o ponto maior, que ele não reparara, essa farpa que levara à separação do amor? Soubesse ele qual e não a teria atiçado.

 

 Agora, era tarde. Era?, pensava, cego pela falta que não imaginava que ela lhe fizesse.

 Talvez ainda o aceitasse, doido de dor como estava, corroído pelo vazio dela na sua vida. Sim, talvez seja possível, dizia para consigo.

 

 Correu, voaria se pudesse, foi-se quedar na porta dela.

 A pulmões cheios gritou: "Não desistas de mim!", gritou uma e outra vez, até ela vir espreitar à janela, a chorar.

 

 Ela não chorava como choram as mulheres quando os homens as surpreendem e emocionam, não, não era esse tipo de choro.

 Por entre as lágrimas, ele viu a dor tatuada nos seus olhos, viu-a tão viva que doía olhá-la directamente nos olhos. Não podia ser uma coisa nova, nada novo tem aquele aspecto, aquela dor fazia parte dela há muito tempo. E ele?, como não vira?, como não conseguira perceber que a infelicidade lhe estava a sugar a juventude? Tinha sido tão cego, tão ocupado e cego.

 

 Perdera-a. Conseguia vê-lo, por entre o choro enlutado dela.

 

 Caíu de joelhos no chão, num grito que a urbe abafou. Ela saiu da janela, ele morreu um pouco.

 

 E os dias não mais foram de sol.

 

 

Carta ao Amor

por lcferreira, em 12.05.11

 Querido Amor,

 

 Escrevo-te do mais íntimo do meu ser, da profundeza ambígua do meu coração, escrevo-te para te dizer "Adeus".

 

 Por anos, enquanto me davas a conhecer o teu rosto vil, não abdiquei da minha fé em ti, mesmo que fé não fosse o meu forte, não olhei a meios para te albergar em mim. E por entre ti e teus quereres, apaguei-me e esqueci-me de mim.

 

 De cada vez que me fizeste cair e jurar abandonar-te à tua sorte, encontraste maneira de te chegar ao meu peito e cantar-me ao ouvido. E depois de me enredares novamente em ti, falhaste-me, uma e outra vez. Por ti caí e em dor me levantei. Por ti vivi, por ti chorei, por ti o meu olhar brilhou, por ti e por teus modos me afoguei. Afoguei-me na ilusão idealista de ti, essa imagem branca e plena de ti, sem as sombras que tens, sem teus ares de crueldade infantil, pretenciosa.

 

 Amei-te com tudo o que tinha, mais o que não tinha, com esperança e violência, amei-te plenamente, sem saber do que eras feito.

 

 Agora, que te deixo para trás dos sonhos e das lágrimas, que te aceno e te entrego ao meu passado tenebroso, um peso se eleva dos meus ombros, se espalha pelo ar.

 

 Foste o dom mais precioso e a minha maior desilusão.

 

 Adeus.

Aos Amigos

por lcferreira, em 11.05.11

 Quando eu morrer e já nada de mim perdurar físico no mundo, quero viver no coração dos meus amores, na memória dos meus amigos.

 

 Quando me finar finalmente, em dor ou mesmo na tranquila paz, quero levar gravados nos olhos, os olhos das gentes da minha vida.

 A vida só tem sentido se houver quem a partilhe connosco, os altos dela, os baixos dela, dessa vida. Sem quem me acompanhe a jornada, quem sou eu, sozinha e infeliz? Sem quem me aponte o caminho, de mãos dadas, sem quem me faça rir, quem me faça chorar de tanto rir, a vida não tem cor nem sabor nem textura nem dá vontade de viver.

 

 Quando eu caminhar por esse Vale das Sombras da Morte, não vou ter medo, eu sei. Vou munida da luz que só uma vida com Amor pode dar, esse Amor que tem tantas faces e nomes, adjectivos e verbos. Vejo-o nos olhos dos meus amigos, esses que me ensinam e entendem, mesmo quando não aceitam, que me dão amparo quando lhes falta o deles. Esses são os pilares do meu viver, as forças que me impelam a sorrir, mesmo que seja o fim anunciado ou até a surpresa de não acordar.

 

 A eles, aos que contam, aos que passaram e se esvaneceram, aos que por aqui se encontram, aos que ainda não chegaram. A eles, deixo-lhes o mais devoto dos amores, a minha Amizade.

 

 

Do Alto do Muro Cresce a Dor sem Porquê

por lcferreira, em 07.05.11

 Um minuto passou, depois outro e outros mais se seguiram. O relógio avançava, impiedoso.

 Não ligava para as lágrimas dela, para a dor estampada no seu rosto jovem. Não se condoía com o seu coração triste e amarrotado em desamor.

 Os minutos eram assim, uns após ou outros, sem parar o mundo, para que ele olhasse para aquela mulher, outrora menina, em cima de um muro, a chorar.

 

 E ela lá se quedava, abandonada pela flores, entregue à amarga solitude. Numa espera que não tinha porquê, em nome dum sentir que a traíra.

 

 O amor tinha-a traído, sem razão aparente, sem explicação possível. Era por isso que esperava, do alto do muro. Pela resposta a todos os seus porquê's.

 E embora ela soubesse, que saber não diminui a dor, ela não iria descer do muro, enquanto não soubesse porque havia o amor falhado.

 

 

O Amor Precisa de Amor

por lcferreira, em 05.05.11

 Disse-lhe, com as palavras erradas, que não sucumbisse ao cansaço, à falta de tempo, à falta da materialização do amor. Disse-lho e ela, no meio da raiva que advém duma discussão, percebeu do seu jeito. Percebeu errado.

 

 Despoletou nela uma reacção adversa, cheia de ideias de um futuro, quando tudo o que ele queria, era assegurar mais um dia juntos. Ele pediu-lhe que lutasse, mesmo que parecesse não o querer, tão envolto em prioridades que a relegavam para último.

 

 Quando a explicação veio, ela chorou e chorou. Chorou mais, apercebendo-se de que, ultimamente, era essa a constante maior da sua vida. E o amor não deveria trazer tanta dor, tamanha expulsão de sal dos seus olhos castanhos. O amor era o maior dos dons, o melhor dos sentires. Mas não era isso que este amor lhe trazia. E ela falava em desistir.

 

 Foi pela noção dessa realidade que ele trocou as palavras e a magoou novamente, acto intencional ou não, era corriqueiro. Mas isso não criava nela o hábito de o sentir. Ela odiava ser magoada e culpava-se por amar um homem, que sim, também a amava, mas que se esquecia de o demonstrar, pois esperava que ela aguentasse até todas as contrariedades passarem. Mas depois de uma vencida, uma se lhe seguia, e era assim que ela vislumbrava o futuro, uma sucessão de coisas muito importantes que faziam com que ela parecesse insignificante.

 

 Não há nada de insignificante numa mulher que ama em pleno, que ama com o corpo todo, com o coração e alma abertos.

 Não há nada de insignificante em desmerecer e subvalorizar tamanha entrega.

 Não há nada de insignificante num toque que não se dá, por desculpas que não justificam a falta dele.

 

 Ele mudou de assunto. Ela calou o choro. O dia encontrou-os juntos, com um muro invisível entre os dois. E isso mudou o amor.

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