Haja
Nem só de frutos vive o Homem, nem de carne ou água.
Vive dos toques que a pele deixa sentir, dos cheiros que se cruzam uns nos outros. Vive da carne sim, da carne que o amor experimenta, do suor dessa carne, dos frutos desse acto de entrega e desejo.
Quando a fome e a sede se entinguem e se acalmam dentro da cabeça e do peito, é porque foi oferecido e tirado, tudo o que há por entre o ser.
E há cantares lá ao longe, por entre os sinos acobreados de uma Igreja, anjos caídos na desgraça de se ser mais que um vulto, de se querer mais que um par de asas coladas com fé.
Haja fé nos Homens e nos seus actos, nos seus amores e nos seus ódios, na força com que fazem tudo isso. Haja fé nas linhas das suas mãos, no sorriso que não se esquece.
Haja cor nos dias e perfume nas noites. Haja amor e guerra e uma mão estendida até ao horizonte.