a noite tem horas a mais, o amor não
e se eu disser que nada mais há a fazer e se o tecto desabar por cima dos teus pecados e todo o céu se encher de fogo e mágoa? se por entre o fado e o fardo de já nada mais haver a dizer e tanto já se ter chorado em dor e angustia, se tudo isso virar um pó que nos tape os olhos e nos perfure os pulmões? se o dia morrer no surdo lamento não dito e a prata de que se faz a lua derreter para cima dos corpos que ocupamos e nos for negada a barca?
por entre a devassidão dos dias deixados para amanhã e os amanhãs que nunca mais nos verão unidos, que te resta nesse pequeno mundo pintado de grades feitas de arrogantes ares cravejados de nicotina?
é isso o famoso amor? pedaços de nada regados a fel num discurso irónico e vazio?
dói. mas irá deixar de doer. de ti nunca nascerá a semente fértil da felicidade.