Estou rodeada de pessoas mascaradas, sem que o pedaço opaco que afirmam, em mentira, ser seu, caia.
Seres desprovidos da simplicidade que a verdade tráz. E é-a simples, se a cultivarmos natural em nós, se fizermos dela, a nossa arma mais preciosa.
Não ter vergonha de se ser o seu próprio eu, é despojar-se de fatalidades que condicionam o viver, que retêm a felicidade e a sua percepção. Pois todos nós somos felizes, em altura certa, mas, envoltos nessa fabricada versão de nós, nem nos apercebemos de quão valioso é o momento.
Somos bombardeados constantemente pelo glamour das estrelas, não mais que comuns mortais imortalizados, tantas vezes, pelas razões mais erradas. Almejamos ser iguais a elas, mudamos a forma de andar, de falar, de sorrir, a forma de ser que nos torna únicos e inimitáveis. Vendemo-nos à ilusão de um mundo que não é real até o ser, acreditando que, uma vez lá chegados, a dor e a infelicidade que o nosso rasto alberga, desaparecerá totalmente.
Ou somos felizes da nossa maneira, com sonhos sim, pelos quais trabalhamos, ou somos imitações baratas e manufacturadas de um papel idealizado, então, essa dor e infelicidade nunca deixarão de nos acompanhar.
É-nos dito que devemos sorrir, sorrir com os dentes que temos e os que não. E dizer que sim, muitas vezes sim. Que só nesses termos, o valor que impera em nós, irá transparecer e fazer-se ouvir. Que ele é visto, mas passado para segundo plano, quando a nossa própria verdade inconveniente se manifesta, rebelia.
Não vou deixar de ser eu. E tenho vergonha de estar rodeada por personas, por caricaturas patéticas de desenhos animados, sem animação, sem lição de moral no final do episódio.
Tenho vergonha na vergonha que sentem em serem donos da sua vontade, da sua verdade. É para eles que me remeto, na esperança de que se encham de mais do que o vazio que deixam no mundo, por viverem através de um pedaço de plástico mal recortado.