Viver
Espuma debaixo dos pés, maresia que se espalha pelo ar, encontramo-nos nas rochas defronte para o ocaso.
Sabes, viver é uma coisa complicada, tem tantas maneiras de ser dificultada, tantos entroncamentos...
Precisamos uns dos outros para facilitá-la, torná-la mais alegre, mais sorridente. Precisamos de amor na nossa vida, para quando ela se findar, sabermos que vivemos, fomos amados, amámos, fomos felizes, vivemos.
Mas somos teimosos, orgulhosos, preferimos gritar que não precisamos de ninguém, que estamos muito bem sozinhos, preferimo-lo a admitir, ainda que em surdina, que sozinhos não somos completos, sozinhos sem quem queira saber de nós, não somos muito. Muitas vezes, sozinhos não somos nada de nada.
Quando é que a inesistência de afectos em público se tornou tão banal ou sem sentido, que é necessário escrevê-los para que sejam valorizados?
Somos seres complicados a complicar demais o que é simples, a viver aflitos porque ninguém gosta de nós, quando temos tantos que gostam, sem perceber que o amor tem mil faces.
Chegou a hora, as rochas espreitam os nossos beijos, o barco lá ao fundo desliza veloz. Deixa-me contar-te as minhas aventuras e canta-me as tuas...