O Amor Precisa de Amor
Disse-lhe, com as palavras erradas, que não sucumbisse ao cansaço, à falta de tempo, à falta da materialização do amor. Disse-lho e ela, no meio da raiva que advém duma discussão, percebeu do seu jeito. Percebeu errado.
Despoletou nela uma reacção adversa, cheia de ideias de um futuro, quando tudo o que ele queria, era assegurar mais um dia juntos. Ele pediu-lhe que lutasse, mesmo que parecesse não o querer, tão envolto em prioridades que a relegavam para último.
Quando a explicação veio, ela chorou e chorou. Chorou mais, apercebendo-se de que, ultimamente, era essa a constante maior da sua vida. E o amor não deveria trazer tanta dor, tamanha expulsão de sal dos seus olhos castanhos. O amor era o maior dos dons, o melhor dos sentires. Mas não era isso que este amor lhe trazia. E ela falava em desistir.
Foi pela noção dessa realidade que ele trocou as palavras e a magoou novamente, acto intencional ou não, era corriqueiro. Mas isso não criava nela o hábito de o sentir. Ela odiava ser magoada e culpava-se por amar um homem, que sim, também a amava, mas que se esquecia de o demonstrar, pois esperava que ela aguentasse até todas as contrariedades passarem. Mas depois de uma vencida, uma se lhe seguia, e era assim que ela vislumbrava o futuro, uma sucessão de coisas muito importantes que faziam com que ela parecesse insignificante.
Não há nada de insignificante numa mulher que ama em pleno, que ama com o corpo todo, com o coração e alma abertos.
Não há nada de insignificante em desmerecer e subvalorizar tamanha entrega.
Não há nada de insignificante num toque que não se dá, por desculpas que não justificam a falta dele.
Ele mudou de assunto. Ela calou o choro. O dia encontrou-os juntos, com um muro invisível entre os dois. E isso mudou o amor.