Queda do Amor
Todo o rosto estava coberto de sal. O coração minguado pela dor e desespero de se encontrar sozinho.
No meio do vazio que a rodeava e engolia, ela levantou-se num silêncio sepulcral, de faces secas e enrugadas.
Pé ante pé, como uma criança que aprende a andar, devagar, dirigiu-se à janela do quarto.
Oh!, quanto amor vira fazer aquele quarto, físico e emocional. Quantas palavras de afecto e gestos romãnticos ali se deram, no meio dos lençóis e das almofadas. E agora...apenas a melancolia e o abandono vestiam as paredes sem quadros, a cama era a imagem king size da depressão, o amor tinha mudado de morada.
A janela, que brindara esse amor acabado com raios de sol e olhares de prata, era o destino incontornável que ela escolhia.
Ela escolheu. Escolheu a saída fácil, sabendo que difícil é estar vivo, aguentar os dias e as noites, tentar. Ela escolheu deixar de tentar, quis fugir permanentemente da dor. Abeirou-se do peitoral onde nunca houvera canteiros de flores e olhou para baixo.
Lá em baixo, as pessoas andavam como se a dor dela não existisse, como se fosse certo que o amor dela a tivesse abandonado sem dó nem razão. Andavam felizes, sem se importarem que a felicidade lhe tivesse sido arrancada do peito.
Fechou os olhos e inalou a humidade do dia.
Enquanto expirava, em silêncio, deixou-se cair, descalça e livre.