Divagações de um Ser Ausente de Si
É tarde. A noite está cerrada e vestida de um luto que dói.
Quisera-te aqui a amenizar a crescente provação dos dias lentos e quentes. Este Inferno meu, sem ti.
É de oiro e prata este penar soluçante que se pendura na garganta fechada e seca de onde não saem poemas de amor.
Dói-me o peito e o ar falta-me, faltas tu e teu cheiro a suor que se entranha na carne, teu sorriso patético e sem vontade. Oh!, que angústia esta que me assola e dá de beber amargo trago sem pejo! Que miséria de espírito me assalta e me rende, me leva a melhor através do cansaço de te tentar ensinar a perceber a dor que causas. Todo o corpo me dói e se verga à vontade do sofrer molhado das faces ruborizadas.
Eu não sou mais eu. Sem ti eu sou nada, contigo nem sei. Não sou eu de maneira alguma, deixei-me enredar em ti e nos teus modos grosseiros e já me esqueci de ser eu.
Não me conheces. Achas que sim mas enganas-te. Não, não é possível que me conheças. Eu não me conheço.
Sou uma mancha branca que se move e respira em silêncio, sou pouco mais que a sombra que largas em qualquer lugar, sou a loucura de viver para amar.
Ou era.