Saltar para: Posts [1], Pesquisa [2]

L.C. Ferreira Word

Porque tudo o que conheço não chega, porque nunca direi vezes suficientes e porque sim...

L.C. Ferreira Word

Porque tudo o que conheço não chega, porque nunca direi vezes suficientes e porque sim...

Mãos de Mãe

por lcferreira, em 29.01.11

 Dou-tas, são tuas. Minhas mãos que se gastaram para te ver crescer são tuas, toma-as.

 Foram elas que te pegaram, numa noite fria em que decidiste nascer, elas te embalaram e te guiaram ao alimento. Estas mãos, feias e deformadas pela luta do pão da tua boca, viram a vida passar por elas, fizeram muitas coisas boas e más.

 Levei-as muitas vezes á cabeça num desespero calado que nunca viste, apertei-as uma de encontro á outra com força e sem força alguma.

 Deixei-as cair em desistência e no entanto, não me foi possível desistir, por ti, por esses olhos de amor que trazes contigo, pelo sorriso que me ilumina a ideia de escuridão.

 

 Sabes, foi com elas que lutei por nós, foram o acto mais visível dum amor que não se mirra nem desfaz. E de nenhum dos seus actos me arrependo nem vitimizo, tudo feito em nome de ti é coisa pouca. Pois tu e só tu, és a razão de ser destas mãos.

 

 

 Estas minhas mãos, são tuas meu filho. Nelas vai meu coração, meu calor, meu amor e toda a redundância que me invade, para te dizer, Feliz Aniversário.

 Amo-te.

Lisboa das Calçadas, Lisboa das Baladas

por lcferreira, em 02.01.11

 Lisboa tem sabores, cores e gentes que em parte alguma do mundo se encontram.

 Ruas e mar, tem cavernas de saber, tem tabernas de beber.

 

 Lisboa vive das vozes das gentes que a percorrem e descobrem, ora o que tem de magnífico, ora o que tem de mais primitivamente macabro.

 

 Lisboa não é mulher como as mulheres de carne e osso, tem curvas que dão em sangue, tem honestidade criminosa nas mãos. É crua, despida, cruel e ilusionista. Lisboa não se importa de o ser, não o fosse ela e seria quem a desempenhar tal papel?... Dotada de um altruísmo poético e trágico, Lisboa se encontra e se esconde por entre as gentes, por entre os passos das gentes.

 

 As gentes de Lisboa, as naturais, as naturalizadas, as que nunca dela saíram, as que não o conseguem, as que a escolheram como lar, Lisboa é mãe e madrasta de milhares de almas condenadas. Que sujam a calçada, que a limpam, que nela sangram e choram, que dela levam a beleza e o brilho, estas gentes de todas as cores, com palavras impuras e hábitos egoístas.

 

 Lisboa tem loucos, tem-nos nos cantos escuros dos prédios ruídos onde ninguém os incomode, incomodados por serem algo com que nunca encheram os sonhos infantis. Sim, cada marginal acobertado pela manta lisboeta, já foi uma criança. Herdeiras da rudez de um pai ausente ou da nudez de uma mãe meretriz, ou pelo contrário, vítimas da injustiça de um sistema falido, obrigadas a serem donos do seu próprio destino, da pior maneira possível.

 

 E Lisboa, poema de um fado rouco, não os renega, esses marginais, criminosos, traficantes, atacantes, ladrões, corruptores, mendigos, vagabundos, adúlteros. Esses homens de fogo que arde os olhos, essas mulheres sem embaraço nem dignidade. Ela, Lisboa, não os enxota do seu regaço, não os julga, não os encarcera. Faz das suas calçadas a casa de todos eles, o lar de todos eles.

 

 

 Lisboa tem coração demais para o seu próprio bem e basta olhá-la para o reconhecer. As balustradas carcomidas, as fachadas grafitadas, as janelas partidas, os passeios esburacados, ruínas por todo o lado.

 E, no entanto, deixa um cheiro de sal no ar, um cheiro que diz que aqui é casa, aqui é lar. Deixa magia por entre o ser das gentes malditas e das gentes morais.

 

 

 Lisboa tem encanto, sempre. Mesmo que lhe falte perfeição.

 

 

O Primeiro de Todos os Dias

por lcferreira, em 01.01.11

 Foi um Sol novo que se levantou quando o primeiro dos longos dias acordou. Um novo Sol cheio de promessas velhas e desejos revisitados...

 E, todavia, um Sol, nem mais. Um dia, um novo recomeço, uma razão a mais para mudar as águas turvas que ficaram no ontem que se finou em estilo apoteótico, em luzes de todas as cores. Repleto de sonhos e fadas, de tempo que os pede realizados, sem desculpas, sem adiamentos.

 

 O primeiro de todos os dias, nasceu para nós, olhem-no por toda a sua beleza, por todas as oportunidades que tráz consigo, hipóteses e hipóteses de um felicidade teatral, dramática, sentida no mais íntimo de nós.

 

 Lá atrás, por entre o rasto do álcool, das purpurinas e dos copos descartáveis, ficou um ano inteiro, a juntar a tantos que por nós passaram, uns em glória, outros nem tanto. Lá atrás, onde só a memória chega, estão as bases de hoje e amanhã, dos homens e mulheres que seremos, foi lá atrás que os começámos a definir e é agora, a partir de agora que os continuamos, muito para mudar, muito para reinventar.

 

 Aqui e agora, no primeiro de todos os novos dias, está na altura de sermos nós e só nós, a dar uma face renovada ao amor, trabalhando-o com as mãos nuas e capazes, que tudo á volta é caso de amor ou da falta dele, tudo se dá por nome dele, tudo se acaba sem ele. É dele que nasce a esperança infindável, a fé inexplicável, a tontice pura que tantas vezes nos falta.

 

 

 Talvez seja eu, mais uma alma louca e sem cura, que vê o dia a nascer e se sente grata por fazer parte dele, por ter ultrapassado mais um ano difícil e ainda assim, ter durado mais que ele.

 O ano que acabou, acabou, foi-se, esfumou-se. Deixou algo de si, claro, mas foi-se, não serve mais de desculpa para que tudo seja negro ainda, para que o Sol não brilhe.

 

 

 

 Anos, bons, maus, há-os aos magotes. Vidas, temos esta. Eu escolho vivê-la. A partir do primeiro dos dias.

Mais sobre mim

foto do autor

Arquivo

  1. 2014
  2. J
  3. F
  4. M
  5. A
  6. M
  7. J
  8. J
  9. A
  10. S
  11. O
  12. N
  13. D
  14. 2013
  15. J
  16. F
  17. M
  18. A
  19. M
  20. J
  21. J
  22. A
  23. S
  24. O
  25. N
  26. D
  27. 2012
  28. J
  29. F
  30. M
  31. A
  32. M
  33. J
  34. J
  35. A
  36. S
  37. O
  38. N
  39. D
  40. 2011
  41. J
  42. F
  43. M
  44. A
  45. M
  46. J
  47. J
  48. A
  49. S
  50. O
  51. N
  52. D
  53. 2010
  54. J
  55. F
  56. M
  57. A
  58. M
  59. J
  60. J
  61. A
  62. S
  63. O
  64. N
  65. D