Oh! Se Dói!...
E agora?...
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E agora?...
O amor é um dom maior que um apelido num papel. É ser o ombro mais forte de alguém, o porto mais seguro. Haja amor! Que ele se mostre e em vós se invada. Por muitos e bons anos...
A minha aguarela agridoce
Feita de sombra e de luz
Geme com gemeria se fosse,
Por eterna, minha cruz.
A minha paleta privada
É um arremesso da má-vontade
Arremessada em mim, ó santificada
Personificação da Verticalidade.
Utopia, quem diria
Que me achasse 'inda tão formosa e nova
A bagagem que o ópio trazia
Seriam os sapatos com que iria para a cova.
Machadadas, machadadas, sempre machadadas
O auto-de-fé mais frio e melhorado
Nas costas, nas mãos, na voz, machadadas
A limitar o voo conquistado.
Lealdade a um nome que não se esquece
Por um Povo que vive a viver fingir
Um País que já não se parece
Consigo mesmo, e se está a sumir.
Por entre estas capas de Fado falso
E esta onda do deixar andar
A andar veloz para o cadafalso
A minha aguarela vai-se a apagar.
Glorifica-se o estado de analfabetar
Que falar com modos é antiquado
Os homens de amanhã vão acordar
Ignorantes do poder do próprio legado.
Um legado de bravos conquistadores
Homens sedentos de aventura
Poetas, fadistas, célebres navegadores
De um tempo que não se perdura.
A minha terra chora
Pela estupidificação das massas
Maldita que não chega a hora
De (ó Portugal!) sacudir-te as traças.
Não voltes, não voltes. Não me dês esperança nem ânsia. Não voltes as costas, não olhes para trás.
Deixaste-me aqui, no frio escuro da noite estrelada, sem ti, quase sem mim mesma. Abandonaste-me, sem pejo nem arrependimento, porque os hás-de ter agora?... Não, não voltes. Não quero mais desse amor disfarçado, dessa dor enunciada, desse chorar que não se cala.
Foste e eu, sozinha na penumbra de mim, içei-me do buraco negro do teu legado, fiquei em pé, por mim.
Agora que te dás conta dos erros do teu julgar, do rumo das tuas escolhas insensatas, acreditas que ainda sou tua, que esperei por ti.
Não sou mais tua, sou minha, sou desta noite a que me entregaste, não voltes. Não sejas mais o vilão, o mau senhor, basta que não voltes.
Dei-te o que sabia, o que tinha, o que não podia. E tu partiste. Não voltes, o que era de ti, já se foi.
Quando eu partir, na madrugada da mudança, levo-te comigo, a aquecer-me a existência.
Foste a minha companhia inesperada e surpreendente, uma lufada de ar fresco no meio do bafo quente destes dias infernais.
Quando eu me for, verás que não fui, que vou deixar-te recados sempre que possível, que vou querer saber novas das tuas aventuras, que vou ser tudo o que conheces.
Não olhes para mim com esse modo revoltado, percebe que a mudança é precisa e válida, que a vida dá sempre uma maneira de nada se perder, quando é o que queremos.
Não, não te esqueças de mim. Eu sei que não me vou esquecer de ti.