Sou humana, de carne fraca e imoral. Sou uma só e albergo milhares de mim, em mim.
Tenho as mãos cansadas e sem força, deixo-as cair em desespero. Não sei que mais fazer, sinto-me afogada e soterrada, não consigo agir de outro modo. Estou enredada num misto de sentires e cheiros e não estou a vislumbrar uma saída em grande estilo.
Quero fugir de mim, do reflexo do espelho quebrado, dos modos loucos de mim.
Despir a minha pele e deixá-la endurada no guarda-fatos de nogueira falsa.
Queria poder gritar que te amo mas não posso. Queria poder te abraçar e tocar e beijar à luz do dia, não devo. As pessoas olhariam para mim e diriam que sou louca. E sou. Sou louca por ti e por ser tua. Sou louca que nem uma adolescente apaixonada pela primeira vez. É isso, estou apaixonada. Mas não era suposto, não me era permitido, simplesmente não é. Ainda assim, grito a ti, no silêncio rouco das nossas horas, que te amo, que te adoro, que sonho contigo, que adormeço e acordo contigo no pensamento.
Se ao menos fosse verdade. Se ao menos fosse possível.
Mudaste de um dia para o outro e eu percebi. Mesmo quando dizias que não, eu percebi. És uma coisa, não é possível que sejas humano. Não há pingo de humanidade no teu íntimo e pior, não te faz diferença. É essa a diferença entre nós, sou humana demais. Erro, oh se erro!, digo e faço coisas não entendidas ou mal interpretadas, sou assim. Não sou biónica, choro e grito e tenho ataques de histerismo, sou depressiva mesmo antes de ser moda sê-lo. E tu... meu amor que me disse amar e agora já não, tu és a face mais visível da crueldade que conheci ultimamente. Tão bonito e tão doce e tão arrebatador. Tão podre por dentro como nunca vi. Para ti é normal roubar um coração e dá-lo de comer aos mares. Para mim não. Amei-te.
Os meus poemas morreram afogados, foste tu. Qual Adamastor, monstro dos mares e das brumas, foste tu quem matou cada um dos meus poemas. Jazem agora eles, no meio do sal das minhas lágrimas por ti derramadas. Mortos, frios e sem vírgulas, manchados, sozinhos. Vou correr a socorrê-los, será que vou a tempo?, sei que não mas posso tentar, tenho de tentar. Que te fizeram eles para que os dilacerasses, para que os desmembrasses sem pudor? Que pecado imperdoável foram cometer, que não te dessem outra escolha senão a de os destruíres? Eram pedaços do meu amor, odes de carinho e dedicação, fragmentos do meu coração. Rasgaste o meu coração quando rasgaste os meus poemas. Ei-lo agora, morto, frio, sangrado e traído. Era teu. Morreu.
Tenho um choro guardado dentro de mim que é para ti. Tu, que não terias vindo para me magoar, provaste ser mais um motivo de dor na minha vida. A idade não desculpa, nada desculpa que me tentes e me largues sem mais não. Eu confiei em ti.
Sou estúpida e parva e grito e digo asneiras. Sou terna e amorosa e faço tudo quanto queres. Menos resignar-me e deixar cair a imensa falta de tacto com que me tacteias nuns dias. Sou tua e isso pôe-te num lugar confortável de onde não queres sair, nem que seja para fazeres valer o estatuto. És uma besta com um b muito maiúsculo e não me ligas patavina dias inteiros por saberes que ainda assim, estou lá, sou tua. E a culpa é minha por te deixar ser assim e te dar a segurança do meu regaço e do calor do meu amor que correu atrás do teu para o aninhar nele. A culpa é tua por seres assim e não te esmerares para mudar por mim e por nós e esperares que eu faça tudo e tudo se resolva por si só sem que tenhas que lutar por isso. Sim, sou estúpida e parva mas dou-te todo o meu amor e provo-to e mostro-to e tento falar contigo para se dar uma solução às coisas, às nossas coisas e tento e tento e tento outra vez. O quê que tu fazes? Aturares-me apenas, apesar de difícil não é suficiente, eu também te aturo e as bases de uma relação não se medem pela capacidade de aturar o outro. Sou tua, tão tua que mete nojo, o medo de te perder é palpável e tu sabe-lo, parece que te aproveitas disso vez em quando.
Durmo, o zumbido no meu ouvido estraga o que é de bom guardar, os cheiros e as flores que os sonhos negros engoliram. O céu é uma sombra sobre as árvores nuas. Vou adormecer com elas.
Perdoa que eu sinta e te inunde os ouvidos com o clamor desse sentir cego e sem botão de mute.
Perdoa que chore como se não houvera amanhã e parta pratos e todas essas outras coisas emocionais, a teu ver, desnecessárias ao nosso viver.
Perdoa que te queire mesmo com defeitos, numa esperança casta que este amor te ensine a dar por dar, a dar por receber, a dar.
Perdoa que tenha esperança e fé que não no Deus que admiras, mas em pessoas normais, a viver as suas vidas com devoção suficiente pelo coração de cada um.
Perdoa que não reze como tu, que eu rezo cantando a música que me toque ao peito e me dê alento.
Perdoa que goste de pessoas mesmo que não goste de todas e lhes responda tudo quanto a minha mente intenta, sem olhar ao decoro e à hipocrisia com que achas que o mundo merece ser tratado.
Perdoa que não ligue a estereótipos fracos e sem razão, que queira e viva como me convèm, que acredite que a beleza e a fealdade dos seres está por dentro e nunca à superfície deles.
Mas perdoa especialmente que te ame, que te tenha este amor grande e palerma, sem regras, cheio de 8's e de 80's, este amor que me deixa as veias do coração a bombear sangue que nem loucas, que me deixa louca. Perdoa que queira estar no teu regaço durante horas a fio e que te peça para me levares contigo a ver o mundo e suas cores, que a tua presença é-me vital e mortífera.
Ser tua e de não outro, é tudo por quanto posso pedir perdão.