A Rosa era feita de Espinhos
Eram espinhos, na minha voz, nas minhas mãos, espinhos por mim adentro e por mim afora.
Foram tempos tempestuosos, escuros, o tipo de tempo que não se escolhe nem se prevê. Tempos de um amor que se perdeu por entre a nudez da maldade de um homem...
Dias de guerra e noites aflitas, suspiros e gritos, silêncio da razão. Por entre os destroços e as ruínas de um sentimento afogado, tudo o que ficou de pé, foi parco e fraco, pequeno. Foi do meio dessa fealdade e desse sabor a fel que renasci...
Esses espinhos, essas dores, esse desamor tão grande e violento, fizeram de mim quem sou, para o melhor e para o pior.
Não sou um sol radiante, tenho sombras no rosto.
Não sou uma melodia de fundo, tenho fados na língua.
Não sou igual a todas, sou one in a million.
Sou eu em pleno direito, forjada pelas cruzes carregadas, marcada por elas, não mais escrava delas. Fazem parte de mim, da história que vou deixar quando me for, pedaços apenas, tenho muito mais para escrever no livro da minha vida.
Eram espinhos. Estavam por todo o lado, dormiam e acordavam comigo. Já lá vão, não magoam como magoavam, não sangram como sangravam.
O tempo é ventoso, é verdade. Mas a tempestade passou, o sol nasceu e a vida encontrou uma maneira de seguir em frente.
Guardei os espinhos para me lembrarem do breu e do que foi preciso para dele fugir. Para poder renascer e viver.