Até Casa
Abro os olhos e vejo.
Vejo os vultos das árvores a tapar as luzes que a cidade impõe. Os vermelhos que se tornam verdes, as pessoas aflitas na pressa de chegarem a tempo e o fumo de escape que deixam para trás. Vejo o rio vestido de breu, a cintilar nas margens da cidade que deixo e da cidade que me recebe, os barcos que se aventuram por esse rio dentro.
Vejo as capelas vazias, os castelos abandonados e as hortas adubadas. As estrelas tapadas e a Lua escondida, não vejo mas sei que estão lá, por trás das nuvens carregadas.
Vejo as fontes de águas paradas e a estagnação dos telhados, os esqueletos das casas caídas, os grafítis por aqui e ali.
Vejo o ar pesado dos sonhos falidos dos outros, dos meus também. E choro, vendida à realidade dura. Choro e ninguém se apercebe, neste comboio azul e branco, ponte ágil entre margens.
Choro de olhos abertos, a não deixar escapar cada pedaço desta vista esplendorosa, silenciosa. Choro porque estou em casa.