Depois de cair
Madrugada. Inda as palavras dormiam enquanto eu despertava sem vontade. Muda. Dormiam as palavras e o som que fazem quando saltam boca fora, dormiam silenciadas, dormiam silenciosas. Vibravam dentro de mim, as palavras, queriam que as deixasse acordar e voar, voar na ponta da minha pena, na ponta da minha língua.
E eu, inda deitada, as palavras a ecoar dentro do meu peito, a reclamar por liberdade, vim poisar-me aqui, a vê-las ganhar forma. Eram então, estas as palavras que agora voam.
Fui um bicho, orgulhoso, que não sabia nem queria pedir ajuda. Forte, fraco, um bicho do qual não tenho saudades. Fui um anjo de asas queimadas e caídas, um demónio de aluguer. Magoei. Chorei. Enraiveci. E mesmo assim, não pedi ajuda. Fiz mal. Quis fazer tudo sozinha. Não consegui. Caí. Mais do que uma vez.
E veio o tempo, mudou-me. Cosi as asas, levantei-me, ouvi o que dizia o meu coração. Abri os braços para o amor. Não sou a mesma, já não um bicho. Não acabada, não estagnada, consigo mais da vida. Sei que sim, vou fazer com que assim o seja. Não sozinha contra o mundo. Contigo.
Vem sentar ao meu lado...
